Há semanas estou ensaiando o post que deveria ter saído logo após esse. Não tive vontade de falar novamente sobre isso. Sim, é uma coisa que me incomoda muito. Queria ver, também, se alguém se identificaria com o post – eu tinha certeza que sim.
A Ju Santos tem medo de passar sobre pontes; a Isolda cancela compromissos e sobe, se precisar, 15 andares de escada só pra fugir do elevador; a Luana se mantém sempre ocupada por temer seus próprios pensamentos; a Patrícia sente exatamente a mesma coisa que eu...
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10 horas de uma noite qualquer, há cerca de um ano atrás
“É tarde. Estou cansada. Saio da minha mesa já sonolenta, com a certeza de que eu fiquei mais do que deveria no trabalho.
Caminho sozinha, no frio, pelo estacionamento. Meu carro está todo embaçado. Uma breve chuva o deixou assim. Entro, abro os vidros, ligo o desembaçador e rumo para a Marginal. Não enxergo quase nada, os vidros estão acinzentados e isso me causa um certo desconforto.
Ponte, viro à direita: Marginal. O sono parece crescer. Os vidros ainda não estão cristalinos.
Pista expressa. Sempre vou à direita no limite da velocidade. Hoje não. Uma angústia me toma. Sensação de estar sonhando. Meu cérebro pressiona meu crânio e meus ouvidos. Minha garganta trava, falta ar. Suspiro uma, duas, três vezes. Pego o meu celular e ligo para o meu namorado. Ele manda eu ir para a local, parar num posto de gasolina qualquer e esperar que ele chegue. Obedeço, mas não paro. Se eu estacionar o carro agora, não saio mais daqui. Peço para ele ficar na linha enquanto dirijo e tento manter a sanidade. Respiro fundo. Será que estou ficando louca?
Assim, a 20km por hora e no celular, vou para casa. Sinto muito medo. Medo de perder completamente o controle. Vou gelada.
Já perto de casa, desligo o celular. Tudo piora agora que estou sozinha, mesmo que esse alguém esteja presente só em voz.
Chego e deito no sofá. Só agora me sinto bem e segura. Não ligo a TV e fico pensando, catatônica, no que acabara de acontecer comigo. Eu sei o que aconteceu.”
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Depois disso, desci a ladeira. Fiquei mais de um mês sem dirigir e comecei a me apavorar até de ficar sozinha na minha mesa, no trabalho. Todas as janelas me davam medo. Cerca de uns 15 dias depois do episódio do carro, procurei um psiquiatra. Fui na emergência mesmo. O segundo medicamento receitado pela médica simpática me fez muito bem.
Em um mês eu era outra pessoa. Tinha um pouco de receio de dirigir, mas estava tão feliz... Devo ter ficado uns 8 meses - sem brincadeira - sem chorar. Todos disseram que eu estava mais tranquila e parei de brigar com a minha mãe nos sábados de manhã. O único medo que persistiu foi o de altura. Engraçado.
Tomo
paroxetina há um ano. Tento parar há 2 meses. Minha vida não é mais cor-de-rosa. Sinto um pouco de medo de dirigir a noite e pavor de pegar a pista expressa da Marginal. Todas as vezes que tento, pareço estar entrando num filme de terror. Sim, eu sei que isso é totalmente psicológico, mas
afeta o fisiológico. Enfrentar uma situação de
estresse faz com que seu corpo libere uma carga de adrenalina. No caso da Síndrome do Pânico, essa adrenalina é "disparada" sem mais nem menos e você passa a ter medo do que estava fazendo - no meu caso, dirigindo na Marginal.
Não sou mais a pessoa mais feliz do mundo. Voltei a ser brava e
estressada. O pior, ansiosa. Estou na fase de tomar meio comprimido a cada 3 ou 4 dias, como muleta mesmo. Se sinto uma
pressãozinha na cabeça, uma tontura ou medo de perder o controle, comprimido pro bucho.
Espero, com este
post, estar ajudando a mim mesma e a mais pessoas que passam por isso. Segundo
Julio Peres, psicólogo que entrevistei, falar dos seus traumas faz com que eles sejam superados.
Foto:
http://entresonhos.blogspot.com/