Quando o amor vira tragédia

Eu tinha outro post pra colocar aqui. Na verdade, a essa hora deveria estar dormindo. Mas não falar sobre o caso da jovem que morreu com um tiro dado pelo ex-namorado seria negar os meus pensamentos e a sensação de mal estar que me acompanhou pelo final de semana.

Eloá ficou 100 horas com o ex-namorado no apartamento onde morava. A amiga saiu e depois voltou. Os dois namoraram por quase 3 anos. Ele queria reatar, ela estava em outra. Pelo menos é isso que nos chega através dos jornais, da internet, da TV. Nós, meros espectadores, ficamos acompanhando de longe um drama que não é tão incomum, tão recente, tão esparso.

Mas não quero falar aqui sobre o crime, sobre o assassino, sobre a psicopatia que o levou a acabar com aquilo que Lindemberg dizia ser o que mais gostava. Quero falar da menina.

Eloá tinha 15 anos. Apenas 15 anos. É muito pouco para alguém se envolver com outra pessoa de maneira tão comprometida. É SIM MUITO JOVEM, enfatizo. Quem somos nós, aos 15 anos? Garotas inocentes, sim, cheias de sonhos, sim, esperando o mundo cor-de-rosa que projetamos da janela de nossos quartos. Quem, com 15 anos de idade, pode ter a medida de um relacionamento, pode saber se o limite já foi ultrapassado, se o que era bom começa a dar errado? QUEM? Eu não, com certeza.

Com 15 anos eu tinha amores platônicos, fazia coreografias de dança nas festinhas da turma, ia no cinema às 3 da tarde. Com 15 anos eu mudava de idéia a cada 5 minutos, ouvia Jon Bon Jovi, queria namorar o gatinho da "Malhação" ou o Johnny Depp. Aposto que você era igual. Eloah também. Então, porque ela estava envolvida de maneira tão forte com um rapaz 8 anos mais velho que, apesar da idade, era tão imaturo emocionalmente quanto ela?

Desde que os seios afloram e a menstruação chega pela primeira vez, as mulheres caem na roda viva da sedução. Viram objetos do olhar do homem e passam a vida tentando seduzir alguém, mesmo que não tenha ninguém em torno delas. Porque é "bonito" uma garota de 12 anos andar de mãos dadas com o paquera com ar de superioridade diante daquela que, com a mesma idade, ainda insiste em dormir abraçada ao ursinho de pelúcia. Porque, a cada dia, estamos empurrando nossas meninas para a fogueira das vaidades do salão de beleza, das dietas, do flerte inconsequente, do relacionamento descartável. Cada vez mais falamos apenas SIM, quando deveríamos falar NÃO.

Eloá deveria estar ocupada com seu futuro, com seus sonhos. Mas desde os 12 anos tinha que administrar um namorado bem mais velho, bem mais inseguro, ciumento e que cerceava sua liberdade. Imagine uma jovem que nem colocou o nariz no mundo já ser puxada de volta por uma corrente invisível? É claro que não daria certo. Eloah, ao que todos dizem, era voluntariosa, cheia de desejos, coisa que na adolescência somos mesmo. Mas ao invés de se dedicar ao que viria, estava ocupada com um relacionamento que consumia seu tempo e sua juventude.

Para que as meninas precisam antecipar o que terão a vida inteira pela frente para passar? Mãos dadas serão muitas; bem como pés-na-bunda, choro no ombro das amigas, brigas com os namorados, compromissos de relacionamento, beijos, sexo, rompimentos... temos anos e anos para viver isso. Mas não aos 15, 16, 17, 18, 19...

Namorar é ótimo, é uma delícia. Estar com alguém é, de fato, maravilhoso. Mas temos tempo para isso, por mais que a sociedade nos cobre. "Cadê o namorado?", quem nunca ouviu essa frase da tia, da avó, da prima ou até da mãe? E se você diz "não tenho" alguma coisa está errada - com você, claro, que é incompetente para atrair o sexo oposto. É a competição, sempre.

Relacionamento não é só prazer; não é um porto seguro para você afundar suas frustrações pessoais no outro. Dá trabalho, precisa de esforço para fazer dar certo a via de mão dupla entre você e ele (ou ela). Por que começar tão cedo uma situação que certamente vai nos acompanhar pelos resto da vida?

Eloá deveria estar se divertindo com a amiga, pregando peça nos meninos, estudando, descobrindo mundos novos nos livros, nos filmes, nas músicas, na vida... Deveria viajar, fazer novos amigos, dançar, pular, ser bastante inconsequente, viver histórias para contar lá na velhice. Mas ela não fará nada disso. Acho que nem teve a oportunidade de pensar no que estava perdendo ao passar o começo de sua vida de mulher já atrelada a um homem antes de sequer poder escolher, COM CONSCIÊNCIA, se era isso que queria.

Este texto não é para condenar o namorado assassino; acredito do fundo do coração que ele nunca mais terá sossego na alma por causa do que fez. Que se lembrará para sempre do momento em que deu o tiro e acabou com tudo. E o que o vazio vai o consumir até o dia de sua morte. Porque nenhum de nossos atos passa em vão. Colhemos o que plantamos. E um dia o destino vem bater na porta para cobrar a conta. Se ele é louco? Pode ser. Mas a mim me parece outro na horda de gente que aprende, cada vez menos, o significado do amor, do amor de verdade. Nem ele, nem ela sabiam o que é isso.

PS- Nayara faz homenagem à amiga Eloá

15 comentários:

A Publicitária disse...

que história triste nao é?
nao tenho palavras p comentar, acompanhei o caso todo o final de semana...

Anônimo disse...

Poxa Lucy, nem sei o que dizer, a realidade em si já é muito triste e com suas palavras ficaram ainda mais.
Eu tive a mesma reação ao saber a idade da menina sabe? Poxa, com doze anos ainda se é uma menina, você mal consegue escolher que roupa usar quanto mais um homem para amar. A galera ficou alegando que não....que podia ser que se os pais dissessem não para este namoro ela fugisse ou não aceitasse, sei lá, mas sabe de uma coisa? Eu não mudei de idéia, acho que a gente tem de aprender a viver a nossa vida sim, mas tudo a seu tempo, graças a Deus eu tenho pais que sempre souberam dizer não quando necessário e devo a eles a minha forma hoje de saber discernir o momento certo de fazer as coisas, a não atropelar, a não perder o rumo por conta da pressa, e a tentar não errar tanto!
Acho que atualmente a sociedade impõe uma liberdade para todo mundo e que ainda diz não é visto como ultrapassado, mas acredito que limites sempre terão de ser dados, pois se não forem dados por nossos pais, serão dados pela sociedade ou por um louco qualquer que confunde os sentimentos e diz matar por amor.
Beijos d'Ella.

*CaRoL* disse...

Nossa! Todas as meninas dessa idade deveriam ler esse seu texto.
Beijos.

Cristiane disse...

Lu, concordo em gênero, número e grau com o seu texto. Estava ensaiando para escrever um também. Sexta-feira, quando cheguei em casa e vi o que aconteceu, fiquei sem chão. A gente acompanhou o caso desde o começo... Por momentos eu tive a impressão de que conhecia a menina.

Dias desses vi uma reportagem no GNT sobre garotas e vaidade. Tais Araujo estava em um salão próprio para "crianças". "Na adolescencia o meu cabelo mudou, ficou mais grosso", disse uma garota de 13 anos - que mais parecia ter 18.

Infelizmente a infância se encurta cada vez mais, a menstruação chega mais cedo e a sedução deixa esse mundo cada vez mais perigoso.

Com 15 anos eu tive um namoradinho, sim. Ele tinha a minha idade, cabelos compridos e, assim como eu naquela época, estava mais preocupado com sua banda favorita.

Anônimo disse...

Eu, como mãe, tb fiquei estarrecida por esta história tão triste...
Sei que, infelizmente, existem e existirão muitos Lindembergs e Eloás pelo mundo afora.
Esse caso foi exaustivamente mostrado pela mídia em detalhes e nós o acompanhamos como a uma novela (ou um reality show) diário, todos torcendo pelo final feliz que não aconteceu.
Todos nós nos comovemos e nos lamentamos pela morte dessa menina tão linda.
O que faremos para criar nossos filhos sem "pisar" na tênue linha que separa a liberdade (tão proclamada pelos jovens)e um autoritarismo ultrapassado? Ao mesmo tempo acompanhar as mudanças sociais, mas sem perder o domínio da situação?
Os pais, assim comos os filhos, também se perdem pelo caminho.
Sei que é difícil assumir essa posição, pois todo pai e mãe pensam que sempre fazem o que é melhor para os filhos. Será???
Muitos beijos Lú.

historias na cozinha disse...

Querida, lindo, lindo o seu texto, parabéns.Beijocas da Célia.

disse...

Eu não tinha namorado quando tinha 15 anos. Era muito bobinha, e até eu sou um pouco. Mas hoje em dia cada vez mais, a gente vê meninas de 13 anos, ou até menos, engravidando. Não tem noção das coisas. A sociedade incentiva, basta ver na TV, os comerciais de tv, os filmes. E esse cara,pra mim é maluco mesmo. 22 anos mas sem nenhuma maturidade. Espero q ele possua consciência, pq se tiver vai sofrer e isso é mais do que justo.

Tânia N. disse...

Concordamos plenamente!

Carol Maria disse...

Você disse tudo o que eu pensei a respeito deste caso, desde o começo. ninguém quastionou porque uma menina tão jovem namorou um cara tão mais velho por tanto tempo... o cúmulo do absurdo. Parabéns, ótimo blog.

Ka disse...

Pois é.. como ng se preocupa com o fato de meninas de 12 namorarem caras de 19, 20...

Depois de 3 anos de namoro vc acha msm q ela ainda era uma criança?

Bom.. de uma coisa eu me orgulho: eu tive infância, adolescencia, estou tendo minha juventude e terei minha velhice...nos seus devidos anos.

Viviane Moreira disse...

Sempre entro no seu blog pra dar uma expiadinha, mas hoje não pude deixar de postar um comentário. Vc está certissíma!!! Concordei 100% com as suas palavras! Dede o início da trágica história eu me perguntava, mas que diabos faz uma criança com um homem feito!!! Quando ela começou tinha 12 anos!!!!! Meu Deus com 12 eu brincava de bonecas, bom pra falar bem a verdade, até os 15 anos!!! Verdade! Por isso, e claro por outras razões óbvias, me espantei com tudo!!!
Enfim, faço minhas as tuas palavras.
Beijos
Viviane

jennifer disse...

QUE HISTÓRIA TERRIVEL NÉ??UMA PENA ...AGORA É SEGUIR EM FRENTE E A CADA MOMENTO DA VIDA AGRADECER QUE ESTAMSO VIVOS COM SAUDE ..EU TENHO DUAS FILHAS E SEI QUE EU VOU TER UMA LONGA JORNADA PELA FRENTE COM ELAS ,MAS CREIO EM DEUS ,SEI QUE ELE VAI ME GUIAR ,ME DAR SABEDORIA PARA ENSINAR O CAMINHO CORRETO APRA ELAS PELO MENOS MOSTRAR E FAZER O POSSIVEL APRAQUE NAO SOFRAM,MAS SE SOFRER QUE SEJA O SUPORTAVEL PARA AGUENTAR AS PEÇAS QUE A VIDA NOS DÁ!!!VOU TE ADICIONAR !!BEIJO

Anônimo disse...

Um kra de 19 namorando uma de 12... aiaiai, boa coisa claramente que não é. O kra não pega ninguém da sua idade e vai se garantir numa de 12, maluca da mãe que deixa. E tá bom que não aguento mais este caso, tá praticamente como o caso de Isabella, a mídia explorando até a última gota.

Alexandre disse...

porque a maioria destas tragédias são cometidas por homens? porque são mais fortes? acho que não, porque são mais fracos...

Lucy Lane disse...

Nossa, Alexandre, que coisa interessante que você falou sobre crimes de homens e de mulheres. Não sei se isso é verdade, tem muitas mulheres que estão no crime sim. Eu fiquei muito triste com essa história. Acho que tocou todos nós, não é mesmo?