Cedo da manhã, por volta das 8, acordei com a mini-gata lambendo o meu nariz. Peguei o telefone e, ainda com os olhos fechados, liguei para a minha mãe.
- Oizitos! – disse eu, com aquela quase-voz de quem quer dormir mais.
- Você num sabe... Ontem, quando estava passeando na avenida, entrei na loja de animais do "seu menino”. – diz a minha mãe, superempolgada.
- Hum.
- Aí, tinha um poodle minúsculo, daqueles que não crescem, cor de caramelo.
- Ahã.
- A peguei no colo, brinquei com ela... Ai que coisa pequena. Quero para mim...
- E a gente faz o que com as 5 gatas? – disse eu, horrorizada.
- Ela vai passear no shopping comigo, vou carregá-la para todos os lugares... – disse, como quem não ouviu minha pergunta.
- NÃO, mãe!
Tirei a Gui de cima de mim e levantei. Desci, dei água na pia da cozinha para a Meg. Tirei a Lucy de cima da pia. Tirei a Lucy de cima da pia. Tirei a Lucy de cima da pia. Tomei o último restinho de Nescau e comi duas bisnaguinhas com requeijão e geléia de morango.
Depois do banho, abri meu guarda-roupa. Decepção. Há 3 semanas não passo roupas, só em extrema necessidade. Vesti minha calça jeans de ontem e uma blusa – a única decente – passada. Passei minha base, rímel e deixei de lado o tão adorado blush terracota - estou aproveitando o pouco bronzeado que consegui em apenas uma hora de sol em Paraty.
Sai apressada de casa e fui buscar a minha mãe. Ela queria aproveitar a minha ida à avenida para ganhar seu presente de Natal adiantado. No caminho, passamos em frente a loja de animais no “seu menino”. Em questão de segundos, minha mãe estava sentada no chão, brincando com o cachorrinho - ou melhor, cadelinha.
- Olha aí, ela me escolheu! - dizia, empolgada, enquanto aquele projeto de animal mordia seu tênis. - Compra ela pra mim?
Confesso que pensei uma, duas, três vezes. Mas a sensatez venceu. Imaginei-me duelando com Tainá, a gata “mucho-macho”, tentando salvar aquela pobre cachorrinha com nome indígena - sim, a minha mãe já estava pensando em nomes... e de índio – de suas unhas afiadas e com mira a laser. Lembrei-me que cachorro não faz suas necessidades na areia, como os gatos. Mas pensei, principalmente, na quantidade de amigos peludos que zanzam pelas ruas sozinhos e a mercê de todo tipo de gente; na vida triste e esmagada que levam aqueles que vivem em abrigos... Reforcei, mais ainda, a idéia de que não seria justo pagar R$ 400 naquela bolinha de pêlos, enquanto outros tantos esperam para serem adotados.
Sai daquela pequena loja com a minha consciência tranqüila: não comprei o animalzinho por impulso. Mas tive que agüentar um pequeno bico daquela mãe, que por um breve tempo, virou filha.
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3 comentários:
Minha mãe faz coisas parecidas, de vez em quando.
E não acredito que seus gatos também bebem água na pia! Achei que fosse uma coisa tão exclusiva... Hahahah!
Bjinhos Cris!
haha adorei seu texto! E mais ainda o jeito de sua mãe! =)
Muito obrigada! Ela é meio "doida"... kkkkkkkkkkkkk
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