Minha primeira vez... no circo

“Chegou, chegou, tá na hora a alegria.
Chegou, chegou, tá na hora a alegria.
No circo tem palhaço, tem, tem todo dia.”

Minha família, a parte materna, era de circo. Os Temperani eram superfamosos, rodavam o Brasil e dormiam em cabanas. Meu avô e minha avó, que ainda é viva e tem 90 anos, andavam no globo da morte e na corda bamba.

Em 2007 eu não fiz absolutamente nada. Casa-trabalho-casa. Uma das minhas resoluções de ano novo incluía mexer um pouco mais o corpo. Já que eu odeio academia, pensei: “Vou seguir minhas raízes”. Palhaça? Sabia que você tinha pensado nisso. Mas não. O que me atrai no circo são aqueles tecidos...

Há umas 3 semanas fui fazer uma aula-teste na Academia Brasileira de Circo. Estava muito empolgada – empolgação, essa, que passou logo no alongamento. Deus, como dói alongar as pernas – ainda mais quando você está muito mais para boneco de lata do que para bailarina. Mas fui firme, agüentei os 20 minutos.

- Em qual você quer começar? – me perguntou a mocinha loira um pouco antipática.

- Pode ser no tecido.

E para lá eu fui. Outro instrutor sentou embaixo do tecido, pediu para que eu enroscasse o pé no pano e subisse. Só. Eu virei o próprio ponto de interrogação. Nunca tinha feito aquilo e ele me pede para simplesmente subir. Depois de uma explicação melhor, devo ter subido 1 metro e meio.

- Posso mudar? Não estou mais agüentando. – disse eu, depois de uns 20 minutos tentando escalar aquilo. Eu estava morta, com dor nas mãos, nas pernas, nos braços.

- Não, pelo menos meia hora. – disse o sargentão.

Fui resgatada por outra instrutora, que avisou o mocinho que era apenas uma aula teste.

Fui para a cama-elástica. Aliás, quase me arrastei até lá. Sabe quando você tenta andar depois dehoras em cima de uma bicicleta? Dá aquela moleza na perna... Parece que o peso do seu corpo está 2 vezes maior. Mas fui!

O instrutor era uma simpatia. Ensinou o jeito certo de pular, e eu fiquei lá pulando... pulando... pulando. Cansei daquilo e fui para o trapézio “parado” (ou coisa assim). A instrutora, mais velha e com um sotaque bem carregado, não era lá aquela simpatia.

- Voccccê já foi no tecccido? – disse ela.

- Sim.

- Então sssssobe.

- ?-(

Óbvio que eu não iria conseguir subir sem a ajuda daquele primeiro instrutor, que apoiava o meu pé.

Depois de amarrada pela cintura – para não ter o perigo de cair e me estatelar no chão -, subi no tecido e fiquei pendurada, segurando o trapézio.

- Agora balanççççça duas vezes, força a perna para frente e para cima e coloca no trapézzzzzzio.

- Ãhn?

Balancei duas vezes e ri. Até parece que eu, na minha condição de bonecão de lata, ia conseguir me dobrar ao meio e me pendurar pelas pernas naquele pedaço de madeira.

- Desculpa, moça, mas me desce. Não tenho preparo físico para isso.

A senhora, que não estava com cara de muitos amigos, deve ter dado graças a Deus.

Olhei no relógio. Cerca de 40 minutos ainda faltavam para a aula acabar e eu queria sair correndo dali. Disfarcei, fui mexer no meu celular, e liguei desesperadamente para a minha mãe me salvar.

Como eu não estava sozinha na aula, tive vergonha de ficar sentada (leia vermelha, descabelada, esbaforida, suada). Fui dar uns pulinhos junto com uma menina de uns 10 anos e seu pai. A “brincadeira” era correr e pular numa mini cama-elástica. Meio ginástica olímpica mesmo.

A cada 3 pulos, disfarçava e ia até minha bolsa “tentar” ligar para alguém.

A parte mais gostosa foi bem no finalzinho, quando minha mãe já tinha chegado para me salvar. Adorei aprender a controlar os malabares de bolinhas. É uma delícia. Definitivamente, foi a melhor parte.

- E aí Cris, você vai fazer a matrícula? – perguntou minha mãe.

- Hoje não.

Até hoje não voltei. Não foi por preguiça e nem falta de vontade: não tive tempo mesmo. Bato palmas para os artistas circenses – inclusive para minha avó. Não é fácil, não.

Obs: Lembrando que eu sou totalmente contra circo com animais.

3 comentários:

Lucy Lane disse...

Querida, circo é uma coisa muito hardcore para pessoas MEGA sedentárias como nós. Acho que a gente deveria começar com algo menos ululante, como bocha, por exemplo. Ou quem sabe finalmente tomar vergonha na cara e contratar um personal LINDO DE DOER!

Luzinha disse...

Criiiis!, brigadu pela visita e tudo... quéridaaa! estou aqui a me dobrar de rir. que história deliciosa! que máximo tu teres família circense! não sou muito "amiga" do circo [nem mesmo do "de soleil", mas acho tudo muito fantástico!]

tu estás certa, eu também "tenho" síndrome do pânico, AINDA, apesar de estar bastante controlada. acho que é uma coisa tipo rinite, com a qual a gente "tem" que conviver.
e nós temos mesmo muita coisa em comum [legal saber!]. eu também não gosto de academia e dar foras e fazer rir é "nossa especialidade", pelo jeito. sabe aquele vendedor de balões? pois é, sou cliente. vira e mexe eu "chuto o balde"... ahahaha...

Tânia N. disse...

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