Acabei de ler a reportagem de
capa da revista Rolling Stone de março. Ela fala do novo álbum do U2 -
"No Line On the Horizon" - e traz um perfil-entrevista ótimo com a banda. Eles são grandiosos, eles são chamados "a maior banda de rock do mundo", eles me remetem à palavra LIBERDADE.
Há pouco mais de 3 anos o U2 veio se apresentar aqui em São Paulo com a turnê "Vertigo". Eu quase não acreditei porque até o anúncio dos shows só aconteceu em janeiro de 2006 e, antes disso, eu estava frustrada por não ter conseguido juntar dinheiro suficiente para ir vê-los em qualquer outro lugar do mundo. Assim que chegou o dia anterior ao de abrirem as bilheterias para a venda lá estava eu. Fiquei das 4 da tarde de domingo até às 11h30 da manhã da segunda na fila para comprar o meu ingresso. Não dormi, mas também nem conseguiria. Era minha passagem pessoal para a liberdade que eu só conhecia nas letras e na minha imaginação.
Quem não foi ao show se arrependeu, com certeza. Eu cheguei nove horas antes de abrir os portões e estava entre as 1200 primeiras pessoas da fila (das 70 mil que encheram o Morumbi). Quando entrei no estádio, ainda consegui ficar bem diante do palco, na chamada "hot area", que tanta especulação gerou. Bono subiu ao palco com uma jaqueta estampada com a bandeira do Brasil à minha direita pontualmente às 9h45 da noite. A mágica então se instalou de vez e eu me lembro exatamente da sensação daquele momento: tudo no meu corpo tremeu. Suor, lágrimas, um sorriso imenso no rosto e os riffs de City of Blid Lights" tocando ao fundo. Fiquei muito perto, esmagada contra a multidão, de mão dadas com um monte de gente que eu nunca tinha visto, mas que compartilhavam comigo naquele momento mais do que já tinha experimentado em diversas amizades ao longo da vida.
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Não sou fã de outras bandas ou artistas a ponto de fazer o que fiz. Acho a Madonna incrível, por exemplo. Uma mulher que conseguiu muito poder e isso é inspirador. Mas jamais repetiria a mesma saga para assistí-la no palco. Gosto da voz e do tom messiânico de Bono, da guitarra piscodélica do The Edge, da seriedade do Larry na bateria e do estilo do Adam tocando baixo. Eles funcionam como um organismo. Posso citar aqui diversas músicas que mexem comigo por questões quase ideológicas, como "Pride - In the name of Love" ou "Sunday Bloody Sunday". Ou então aquelas que foram meus hinos particulares em momentos nos quais apenas precisava seguir em frente, como "Walk On" ou "Stuck In a Moment". As músicas do U2 são sempre minhas, não servem para compartilhar com um amor ou um momento entre amigos. Elas falam diretamente à minha alma.
Ainda não ouvi o novo CD da banda. Mas, como é possível perceber, seria impossível fazer uma análise imparcial do som. Provavelmente vou gostar - MUITO. Pelo texto que li, vou gostar certamente. Ele me fez voltar à idéia inicial que originou esse post: liberdade. Quando eu ouvia U2, sozinha andando pela praia, dirigindo, no quarto ou na balada, minha mente instantaneamente ia para longe. Para a grama verde de Slane Castle, na Irlanda, para as ruas movimentadas de Londres, para um pub qualquer em Dublin. Fazia eu me sentir uma cidadã do mundo, livre, livre, com apenas o coração batendo forte e um monte de coisas pela frente.
Não tenho como deixar de terminar esse post em tom melancólico. Fiz 27 anos há poucos dias e não fiquei satisfeita. A rotina se resuma a pagar contas, pegar trânsito, controlar as frustrações e - de vez em quando - ter alguma diversão. Não estou reclamando, só constatando. Nossa vida, como está não é ação - é reação. Você reage aos problemas e tenta contorná-los um a um, a medida que vão aparecendo. É uma teia que te envolve e não dá para sair dela.
Talvez seja por isso que nem penso ainda em casamento, filhos, casa própria... Essas coisas de "adulto". Dentro de mim tem um espírito que só quer vagar por aí sem se preocupar se a revisão do carro já venceu ou em voltar para casa pra trabalhar no dia seguinte. Por isso, uma certa melancolia me persegue.
Mas agora eu já sei como acabar com ela.
